terça-feira, junho 12, 2007

A lembrança das datas

É uma expressão de um poeta exasperado com este circuito infernal marcado pelo tempo, que enquadra toda a nossa existência, desde o dia em que nascemos até aquele, mais silencioso e menos festivo em que morremos. Mas também serve a memória dos outros, conjuga todas as referências, constrói calendários, pode dizer-se que vivemos ao ritmo e ao sabor das datas. A esta condição escapam os eremitas que se perderam no deserto ou os pobres de espírito a quem está reservado o Reino dos Céus.
Ainda assim vai alguma distância entre a lembrança da data e a respectiva celebração! Assim como existe diferença entre as datas que têm uma ressonância individual, sejam comandadas pela Fé ou pela afectividade, e as outras, impostas pela comunidade política, que normalmente servem a propaganda de determinada facção.
Diga-se que o surto comemorativo desta última espécie também pode ser datado. E não andamos longe da verdade se o situarmos algures entre a impotência que nasce da decadência, ou a decadência que nasce da impotência! Entre nós, a maleita desenvolveu-se muito durante o século dezanove, transformando-se em epidemia por todo o século vinte e até aos nossos dias!
Hoje em dia, todos os dias são de alguém ou de alguma coisa, e esperamos ansiosamente pelo dia que não seja de ninguém nem de coisa nenhuma!

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