Estavam a conversar à beira-mar, veio uma onda e levou-os.
Salvou-se um para contar a história. Se tivesse terminado por aqui, seria
igualmente uma tragédia, mas respeitava-se o luto. Mas não, agora todos se preocupam com o assunto: - querem saber a
verdade! Querem encontrar responsáveis! E assim, a cada dia que passa, o
retrato de uma sociedade infantil, irresponsável, torna-se mais nítido.
Querem os pais (e familiares) das vítimas saber a verdade! E
o que fica, para além da dor compreensível, é a absoluta ignorância sobre o que
os filhos, que ainda estão a seu cargo, andam a fazer! Quando descobrem o teor
das chamadas ‘praxes’, uma série de ordinarices e frustrações, ficam admirados!
Os professores também! Os opinadores profissionais, as forças vivas da nação,
desfazem-se em contradições – há praxes boas e más, as do meu tempo eram criativas,
inteligentes, ajudavam à integração dos caloiros! A população em geral, que também
tem filhos a estudar, diz-se surpreendida! Ninguém se sente minimamente responsável!
Isto são coisas que acontecem aos filhos dos outros!
E estamos esclarecidos sobre a verdade que procuram.
Passemos então ao passa culpas, ao bode expiatório,
absolutamente necessário para sossegar as consciências! O mais fácil
é culpar o sobrevivente, que assim arcará com toda a responsabilidade. O estado, essa entidade mítica, 'divina', será também chamado a depor. Mas não resolveremos o problema.
As ditas ‘praxes’ irão continuar, e a natureza, pouco dada a colaborar com a irresponsabilidade humana, continuará a
fazer vítimas.
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