segunda-feira, agosto 29, 2005

O paciente português

A gente aguenta tudo! Albardados à nascença, com a canga bem ajustada ao feitio dos ossos ancestrais, repetimo-nos e repetimos em coro qualquer idiotice, qualquer novidade que venha “lá de fora”, qualquer sofisma interessante, e só assim nos sentimos todos diferentes uns dos outros!
“Mísera sorte, estranha condição” – desabafou certa vez Luís Vaz, também ele surpreendido com este género humano!?
Apetece ensaiar o silogismo: não houve feudalismo em Portugal, assim como não há hoje Oposição. Logo, está tudo certo ou como se diz na gíria dos que se ausentaram do sistema – está-se bem!
A algazarra que de vez em quando se ouve, que para ouvidos desprevenidos poderia soar a zanga, discórdia, conflito insanável, não corresponde à suposição – à noite jantam todos juntos no mesmo restaurante ou no restaurante defronte, com o telemóvel ligado aguardando as infalíveis explicações e justificações.
Somos todos amigos!
Sabemos inclusivamente (pelas inúmeras revistas) que se cruzam uns com os outros, não em breves encontros, mas em fórmulas “familiares” criativas e neste contexto tribal, de circuito fechado, parece até que são felizes! Pelo menos enquanto durarem as mordomias provenientes da tal “entidade patronal” que bem conhecemos.
Há férias para todos que isto nunca esteve tão bom! A mensagem que passa palavra é que enquanto houver propriedades (leia-se território) para vender ou negociar, que é mais bonito, a festa vai continuar.
Parece que ainda temos “coisas” nos Açores, a plataforma não sei quê, as zonas exclusivas que valem um dinheirão e já está tudo com “escritos” – a Espanha está muito interessada...
O “tipo” da Madeira é que é um “chato” (e malcriado), não quer vender, não autoriza visitas guiadas e agora chegou ao desplante de não querer alinhar no “iberismo”, esse longínquo e persistente sonho dos nossos patriotas republicanos!
Para as memórias mais curtinhas, lembram-se das cores da bandeira da União Ibérica?! Tão parecidas com umas cores que eu cá sei!
Pois é, pois é, mudemos de assunto que conversas desagradáveis não ligam com mergulhos nas excelsas ondas... ou ardentes safaris...
Pacientemente aguardo pelo toque “da trombeta castelhana” ou por novas “Cortes” (nem Cortes deve haver!) em Almeirim. Mas juro-vos que nessa altura não serei “Febo Moniz”!
É a minha vez de ir de férias...

quinta-feira, agosto 25, 2005

O Plano de Salvação

Com este Governo de costas... para a realidade, atrevo-me a sugerir um P.S. (Plano de Salvação) diferente, que pode talvez ser aproveitado quando todos os outros P.S. falharem!
O estilo e a prosa são um bocadinho vanguardistas para o meu gosto, mas cá vai:
- Considerando que Portugal não era assim, todo cravejado de pinheiro bravo e eucalipto, a tal “riqueza” dos madeireiros e das celuloses, mas que não enriqueceu os centenares de “proprietários de meia dúzia de pinheiros”, obrigados a abandonar as suas terras para irem trabalhar e viver na “cidade-grande”!
- Considerando que hoje, esses “proprietários”, só voltam à terra no mês de Agosto, pelas festas!..
- Considerando que quem lá vive todo o ano, são os pinheiros e os eucaliptos, matéria combustível entregue à sua sorte e que vai ardendo sempre que possível!
- Considerando que esta “riqueza florestal” ameaça levar-nos rápidamente à ruína!
- Considerando, por último, a impossibilidade de pôr um guarda atrás de cada pinheiro!

Proponho,

Que o Governo assuma o controle efectivo dos fogos florestais, retirando a iniciativa aos incendiários profissionais, amadores, ocasionais, distraídos, imprevidentes, etc., e deve levar a cabo essa tarefa patriótica de incendiar o País, com método, por quadrícula, em segurança e com custos reduzidos! E escusa de ser no Verão, porque a época aconselhada para as “queimadas” é, como se sabe, no Outono.
A resistência ou a possível incompreensão das populações perante esta nova visão do problema deixará de se fazer sentir logo que o Governo consiga explicar as vantagens e inconvenientes em confronto.

Principais vantagens:
- Ficávamos todos a conhecer com exactidão a área ardida!
- Os fogos florestais deixavam de ser arma eleitoral, com os benefícios que se adivinham!
- Não se gastavam os rios de água e de dinheiro a tentar apagar os fogos (agora interessava não apagar)!
- A despoluição de alguns rios e do meio ambiente em geral, pelo regresso das fábricas de celuloses aos países de origem (norte da Europa)!
- Em vez de repovoamento florestal fazia-se o repovoamento humano, invertendo a inexorável desertificação do interior!

Vejamos agora os inconvenientes:
- Desde logo o “desemprego” forçado para os incendiários no activo!
- Para madeireiros, celuloses e interesses afins que teriam de procurar outras regiões (mais propícias) para desenvolverem os seus negócios (sugere-se a China pela mão de obra barata e, assim como assim, o rio já é amarelo)!
- Para as empresas que vendem equipamentos para combate a incêndios, que teriam de refrear as suas vendas (são empresas comerciais e os equipamentos são todos importados)!
- Para o deficit que assim diminuiria substancialmente (eu nem quero imaginar os “custos” invisíveis com os serviços públicos ou quase públicos, com os aviões, os helicópteros, autotanques, e toda a parafernália envolvida no combate aos incêndios... e ainda por cima em vão!!!)!
- Para a comunicação social, especialmente os telejornais, que teriam de reciclar-se e arranjar outro assunto para manter o País em estado de alerta!
- E finalmente para o Governo, que teria que sair da “sombra”!

Vistos os inconvenientes e reconhecendo que são graves, ainda assim penso que este P.S. (Plano de Salvação), ao contrário dos outros, tem pernas para andar!

“Uma forma larvar de terrorismo, toma o pulso ao País, infiltra-se e vai avançando sobre a inércia e a incapacidade dos governantes...”
A estação do fogo

segunda-feira, agosto 22, 2005

Miguel exemplar

O muro não caiu, está de pé, aqui em Portugal! Lá fora a liberdade, cá dentro, uma união soviética qualquer, alojada no inconsciente colectivo, embrutece e tiraniza tudo à sua volta, e nós, indiferentes, nem sequer nos importamos com isso!
Se alguma dúvida houvesse, o desfecho vergonhoso do chamado “caso Miguel”, convocaria todas as certezas.
Claro que como não podia deixar de ser, o futebol está sempre envolvido, já que é a única manifestação visível da sociedade civil que somos, (como acontece em qualquer regime de matriz soviética), e nesse sentido, não posso fugir à questão, indispensável para explicitar a minha declaração inicial.
Analisemos factos e intervenientes:
Miguel, pela mão do Sindicato dos jogadores (?) e após “enterro” preparado e anunciado por toda a comunicação social, foi obrigado a retratar-se e a pedir desculpas, publicamente, com base em acordo judicial (!), para satisfazer os interesses (quais?) dos membros da auto-denominada “instituição nacional de referência” – o Benfica!
Como também seria prática numa qualquer democracia popular de leste, os termos precisos do que realmente aconteceu, permanecem obscuros e a comunicação social que temos encarregou-se de desfocar o assunto!
Miguel, assim punido, pelo clube do povo ou do partido, do exército ou da polícia política, pode enfim emigrar para o “Ocidente”, para um país livre!!!
Mas deixemos este caso elucidativo e fixemos os aspectos gerais, mais preocupantes:
Antes de tudo, a alienação pelo futebol, corrijo, pelos clubes grandes, nunca vista, (nem no tempo de Salazar), ocupando intermináveis noticiários, com declarações patéticas de desígnio nacional, com “plateias” ridículas a assistir aos jogos, (lembram-se de Sevilha?!), com os presidentes dos clubes grandes, impunes, (enquanto forem presidentes), a tomarem atitudes que qualquer cabo de esquadra deveria impedir, etc., etc., etc.,...
Depois, temos os comportamentos dos que deveriam dar exemplo, mas que estão num estado de alienação muito mais avançado que o comum da população:
Refiro-me aos representantes do povo, os deputados – o que é que vemos? São todos adeptos fervorosos dos clubes grandes, sejam eleitos por Faro, por Viseu ou por Coimbra, sejam por onde for!
Esta mentalidade redutora, filha primogénita do medo e da vergonha de perder, da vergonha de serem naturais de outra terra que não de Lisboa, é uma tara que tem vindo a agravar-se com esta “democracia”, e é um dos argumentos mais fortes que sustentam a tese que o regime é insalubre. Reparem que nem existe qualquer motivação de natureza económica, (atenuante e preocupante ao mesmo tempo), é pura e simples infantilidade!
E não me venham com o argumento de que o país é pequeno, porque eu respondo, que pequeno é o cérebro de quem assim se justifica. Lembro apenas que ainda há poucos anos, em plena ditadura franquista, os Galegos, por exemplo, também eram todos do Real Madrid ou do Barcelona, assim como era impossível imaginar que o Deportivo da Corunha pudesse alguma vez sonhar em ser campeão de Espanha!
Mas, restabelecido o regime legítimo, os espanhóis (incluindo os Galegos), trataram-se, e pelos vistos a doença tinha cura!
Não posso entretanto terminar sem disparar sobre a nossa “intelectualidade”, meu Deus, tão semelhante aos equivalentes soviéticos: também aqui existem poetas que exaltam o clube do povo! Sentindo o incómodo, defendem-se dizendo que têm um segundo clube no coração! Pior a emenda que o soneto, porque então deviam pagar imposto pelo luxo de terem dois clubes (!) e, não ficava mal, serem confrontados sobre a fidelidade!
Pena é que o estro não lhes dê nunca para se inspirarem no pequeno clube da sua terra...
E os maestros do regime, que lindo, a comporem marchas, hinos e outras partituras, ao glorioso clube dos “não sei quantos” milhões! E que bonito seria, se houvesse só um clube, vá lá dois, para ser um “casalinho”!
E se eu me ficasse por aqui, que isto já me começa a meter nojo?!
Com despedida a preceito:
- Até sempre, camaradas!

sábado, agosto 20, 2005

Um poema de Ruy Cinatti

Maggiollo Gouveia

Este homem Maggiollo tem sido falado.
Comandante da Polícia em Timor-Díli.
Em comissão. Era tenente-coronel ou qualquer
coisa.
Não gostei, desconfiei dele, ao princípio.

Motivo: Ele simpatizava com a U.D.T.,
hoje partido unido a Indonésia, outro remédio
não tinha...
Naquele tempo, não era. Era um partido de
velhos-relhos hábitos ligados ao Portugal
-glórias do Império cediço e ultramarino.
O que foi, foi...
Tudo isto nas barbas do Emboóte
ou bode vocálico, o que quer que seja, voceliço,
snr. governador,
assediado pelos papafigos
infantaços traidores jónatas e motas e mais uns
tantos tontos
da Metrópole - ministros, presidentes,
comissões de descolinazações, etc... cujo
nome há-de vir a lume, alguns já vieram...
Aquele partido e os outros, os jónatas e os
motas capitães-majores
fizeram do governador um trapo
altas horas da noite, a horas mortas,
com a FRETlLIN. A APODETI não valia um caco,
hoje é o que se está vendo...
O que digo, digo, eu não minto, sinto...
e não pertenço a nenhum partido político, o PPM
não o considero,
pelos tempos dos tempos etereamente...
Ah, Timor, Timor, berço de inocente...
Isto é Tomás Ribeiro, és indecente!...
mas de que eu gosto e repito...
Berço de inocentes...
de acerbos, sim de etéreos espinhos!
Isto é meio-Garrett, és cotovia!
Acaba rapaz com o narcisismo.
Voltemos à vaca quente, ao búfalo, ao Maggiollo.
Foi em qualquer dia-noite da época seca ou
das chuvas,
quando os eflúvios frigoríferos se evolavam
do Caicóli,
como se sabe, o pseudo-pântano de Díli, há o
verdadeiro, como também se sabe...
que a explosão excluiu, não este, aquele...

Emoldurada de muita papelada a UDT
apresentou provas
de que a FRETILIN preparava manobras
na sombra e dignas de registo.

Sei que o paspalhão dignou-se ouvi-la (à UDT).
Sexa meteu o dedo no olho e vazou-o
(desculpem, eu queria dizer boca, mas o dedo
enganou-se
e foi direito ao olho, valha a verdade!)
Feito isto, a UDT apoderou-se do Quartel da
Polícia de Díli
e o Maggiollo concordou O.K. vamos a isto,
porque o Maggiollo não podia com jónatas e
motas...
porque eles meteram o dedo do governador no
olho
ou no ouvido das(?) tropas-do-fagote
ou no outro das tripas-medo-fedolosas...
e no fim de contas o Maggiollo era português,
católico de religião, etc. e português
que não gosta que lho enfiem no tótiço,
enquanto que o vocálico, o jónatas, o mote, et
relíquias
foram uma pouca de merda,
os segundos merda que deu a volta ao mundo
- Timor, Timor! Estou acordado!
porque o primeiro foi para Ataúro!...
Enfim, merda activa ou papas, uma pouca de
merda!

Claro, que ouvida a história da UDT,
o jónatas e o mota meteram no jeep, foram a
Taibesse e avisaram a fretilíssima malta:
Atenção, ordinário-marche, a casa é vossa e
o material, nós vamos pisgar-nos quanto
antes...
e assim a FRETlLIN se apossou de Díli, a capital,
e do Maggiollo, comandante da Polícia,
enquanto a UDT, a APODETI, a KOTA e toda a
franklinada dos chefes de suco, cuda-reino,
etc., cavalos e luliks
marchavam pró Katano, quero dizer Indonésia,
palavra japonesa aquela que quer dizer porra
afiada,
não sem terem enviado para o katano os
portugueses furta-cores,
a banhos do futuro.
O Maggiollo não foi, outra a vilegiatura.

Recuemos um pouco. Não uso fichas.
É o que me sai, cai do bestunto
e nem sequer sou prudente e verifico os factos-
datas.
Sou assim como o Xenofonte ou o Fernão
Mendes Pinto,
o que para a história trágico-burlesca da burla
não tem grande significado, a significação.

Sim, porque na verdade, a manobra
de há muito preparada,
como se provou pela tal papelada,
foi pela frente e levou-se de arrancada
e ousadamente.

Ousada não, tinha a seu favor
a porreirice dos motas mai-los jónatas...
Conseguido o desideratum,
a FRETILIN agarrou no Maggiollo,
deu-lhe porrada até ficar sangue,
deu-lhe carne de crocodilo podre
e mandou-o passear para qualquer parte,
praia, ilhas, monte, não a prisão de Aipêlo-Tibar
ontem
e ainda há pouco praia de domingo.
Julgo que o enviaram para Aileu a tomar ares
- bom clima...
O melhor foi que as tareias continuaram e
aumentaram
sempre que chegavam as brigadas Che
Guevara
muito senhoras
das poucas cervejas que ainda havia, das
galinhas, dos porcos
que os timores locais lhes entregavam atónitos,
dizendo para si: Os Portugueses voltaram?
Até parecem administradores malais
(quero dizer, portugueses chefe de posto,
secretários, administradores, enfim a
cafreada do costume)
e quando lhes não chegava a paparoca (às
brigadas)
sobremesavam-se com pudim flan-porrada no
Maggiollo
até o Maggiollo adormecer, cair de sono.
Grandes pontos estas brigadas «cubanas» da
FRETILIN !

O que se passou, não sei. Não leio jornais. Sei
que o mataram
uns portugueses, como é costume, via timores
educados em Lisboa...
Lembro outro português, Canto Rezende,
morto em Timor-Alor por outros traidores iguais
a estes,
poucos mas muitos e chega dizer basta!
e eu não acredito.
Desculpem o tom displicente do relato.
A história repete-se, já estou habituado e o
hábito é canja!

Maggiollo Gouveia foi morto de joelhos, a tiro
(«Grande condestabre, alma pura e bela!»),
de joelhos, de pé
(de pé ou sentado, tanto se me dá).
Rezava a Nossa Senhora de Fátima
(segundo o testemunho-carta-idóneo do
Bispo de Díli, D. José-Joaquim). Depois de
assassinado disse: Atirem!
Rezava a Jesus Cristo-Portugal!

Não fui prolixo, apesar de tudo.
Continuo farto, à boca cheia.
No poema, considero os fins,
não os efeitos fáceis da mistura.
Eu não quero literatura, eu quero poesia,
igual ao livro, eu quero mudar a vida!
Como é bom assim...
Foi tudo escrito ab initio in illo tempore...
do sacrifício de Abraão...
seu filho lsaac... pelo realizador
de um filme célebre – TRAGÉDIA EM TIMOR.

Farto, farto, farto,
é(?) fardo que pesa, uma maravilha de fato.
Pareces um S. João Baptista, coberto de
andrajos!
E peço desculpa à Mãe de Maggiollo Gouveia.
E estou de rastos, não sei soluçar... Agora digo.
Não te conheço, mas sinto-te
ó Senhora Mãe, para que me entenda!...

Búfalos, búfalos, búfalos...
Matem-nos, imolem-nos... Antes matar búfalos
do que matar homens.
Eu sou agrónomo-etnólogo, conheço
o poder puríssimo do sangue.
Quero dizer: lava e polui.
Polui, mas estruma e depois lava-se no sangue
puríssimo...
Mas 100.000 mortos homens-búfalos, basta, já
chega, não matem mais! Bastavam dois,
uma dúzia ou... nenhum.

Maggiollo Gouveia é o meu retrato.
Sou filho e J. C. de Jesus Cristo.
Se os Timores quiserem outra vida que, como é
sabido, lhes substitua um búfalo,
ofereço-me.
Eu já escrevi em Uma Sequência Timorense,
livro esgotado há muito tempo:
Os Timorenses só terão razão
quando me matarem.
Tudo isto nas barbas de outro governador
ou bode, «voceliço», o que quer seja.

Repito, repito, repito:
Não vou, não vamos, não vou dar gritos
selvagens
- Vingança! Viva Portugal!
O meu perdão é outro (fora a vingança).
Timor perdido para Portugal, que não é política,
a de antes e depois do 25 de Abril,
nobre Povo!...

A minha amiga Fulana telefonou-me:
Tu não escreves poema ao Maggiollo?
Eu disse: Não! Há coisas que me irritam,
assim a noite estúpida e eufórica,
assim a morte estúpida ou empírica
de um passarinho pelo capricho de intuitos de
criança
(essa inocente), o resultado o mesmo.
Os mortos não me interessam.
Os heróis não me interessam.
Interessam-me os que não querem nem pensam
em heroísmo.
Se fosse Burton: A Man for all Seasons...
Explico - Arcebispo de Cantuária e Tomás
Beckett...
Seria bispo em Timor-Díli.
Diria, como D. José-Joaquim, bispo de Timor-Díli,
afinal disse,
atirando as patas ao «voceliço»:
Honra de Timor, dos Portugueses, senhor
governador!
Não vou com V. Exa. para Ataúro. Eu fico!

Eu, Ruy Cinatti, diria:
Honra de Timor, de Portugal,
o que vem a dar ao mesmo,
eliminados alguns...

Quanto, a heroísmos, lembro St. Exupéry,
Terre des Hommes - poderia ser Terra de
Timores:
«Et Je poursuivis mon voyage parmi ce peuple
dont le sommeil était troublé comme un
mauvais lieux. Il flottait un bruit vague fait de
ronflements rauques, de plaintes obscures,
du raclement des godillots de ceux que,
brisés d'un coté, essayaient rautre. Et
toujours cet intarissable accompagnement
de gallots retournés par la mer».

Recuando um pouco,
Inspiro-me em(?) St. Exupéry, antepondo
qualquer coisa pouco mais ou menos.
O que me interessa não é a merda que há neste
poema,
mas em cada um de nós homens um Maggiollo
assassinado.
Agora St. Exupery, o autêntico
(com todos os enganos de tradutor-traidor, esse
desgraçado...):
Só o Espírito, soprando no fio da Espada pode
criar o Homem.
Seul l’Esprit, s’il souffle sur la glaive, peut créer
l’Homme.

Prefiro a Espada (sou feito de barro, greda,
como é costume)
sobre a geada gélida e vidro argênteo, um lírio
azul roxo divino...
E que ninguém ouse servir-se, servindo
caminhos ínvios, conhecidos,
servindo neste poema os seus ilegítimos
interesses íntimos...
Maldito! - direi como João, o Evangelista,
apocalíptico profeta do Amor!

IN - Pública nº. 377 / 17/08/2003
Jornal PÚBLICO 4896


O Interregno está para Ruy Cinatti
como o poeta para a Poesia .

quinta-feira, agosto 18, 2005

O Império debaixo do tapete

Se em vez das "Otas" o Governo decidir fazer uma ponte, por exemplo, de Angola para a metrópole, perdão, Portugal -- vêm todos, menos o governo (!) de lá! Depois, se experimentar fazer qualquer outra ponte de uma das outras antigas colónias, na mesma direcção, vêm também todos, incluindo alguns governos!
Claro que existe uma experiência, ao nível das obras públicas, que o nosso governo não deve arriscar fazer -- refiro-me a uma ponte sobre o Atlântico, seguindo a rota de Cabral, porque atendendo à paradoxal atitude dos brasileiros, que votaram no Lula mas não querem viver com ele (!), a esperada afluência, poderia afundar (por causa do peso) o nosso País !
Bem, mas deixemos de lado este plano megalómano de obras públicas, até porque é perigoso dar ideias a este governo, e regressemos à nossa realidade.
Apesar de não haver pontes, o Império ultrapassa bem essa dificuldade e todos os dias se encaminha para as nossas fronteiras e lá vai arranjando lugar em casa de um familiar, de um amigo, de um amigo de um amigo, porque não é impunemente que convivemos juntos durante quinhentos anos!
É assim, que onde quer que vamos, para onde quer que olhemos, por toda a parte, o Império está aí, à nossa volta e só é estranho que políticos, economistas e os génios que temos em diversas áreas, não reparem nisso, que isso não entre nas análises, nas contas, no déficit?!
A verificação óbvia que ninguém quer fazer, ou que ninguém quer ser o primeiro a fazer vai contudo sair-nos muito cara, e quanto mais tempo demorarmos a enfrentar a situação, pior.
Claro que esta "distracção" tem razões que a razão conhece muito bem:
A má consciência da descolonização, os povos que abandonámos à sua sorte, apressadamente, em terras longínquas ou no meio do Atlântico, pesa-nos como um fardo! Na "Europa", para onde nos refugiámos, contávamos esquecer o passado, fazer vida nova, e explorar convenientemente essa grande "descoberta" de Abril -- somos um País europeu! ! !
Só que Portugal está onde sempre esteve, até porque a geografia não é coisa que se mude facilmente, e ainda que queiramos esquecer o passado, este, nunca se esquece de nós!
Por isso, o magno problema que temos que resolver, se calhar, o único e decisivo problema que temos que enfrentar, onde se joga a nossa independência... é o mesmo de sempre -- que estratégia de relacionamento vamos ter com as "colónias", "ex-colónias" ou "palop", e aqui o nome é indiferente!
Disto é que temos que falar abertamente !
Entretanto, vamos empurrando o assunto para debaixo do tapete...

terça-feira, agosto 16, 2005

A estação do fogo

É indiscutivelmente a nossa "silly season", ano após ano, com data marcada e temperatura a condizer, esta apoteose pirotécnica ameaça transformar-se em cartaz turístico (mais um) deste país de eventos! Imagino o slogan: "não se fique pela praia, vá ver os fogos florestais em Portugal"!
O pior é que já não são só fogos florestais, é onde calha! Uma forma larvar de terrorismo, toma o pulso ao país, infiltra-se e vai avançando sobre a inércia e a incapacidade dos governantes, apenas preocupados com a sua imagem e a do partido a que pertencem.
Sabe-se que os regimes não morrem de morte natural, preferem suicidar-se, e valha a verdade que já vi isto mais longe... mas como português, não posso assistir indiferente à destruição, à desgraça e ao pânico generalizados enquanto o primeiro-ministro anda a caçar ou a ver caçar leões, ainda que autorizado pelo ministro Costa!
Aliás, estas férias de Sócrates, quatro meses depois de tomar posse e dois meses depois de ter aumentado os impostos aos portugueses, são simplesmente incompreensíveis, para não dizer outra coisa!
Quem não meteu férias foram os incêndios e os bombeiros, que dia e noite, fazem os impossíveis para conter uma situação, que temos que admitir, já está para além de qualquer controle.
Pois é, isto já não vai com "prevenções" e mais dinheiro para as "prevenções". E também não vai com mais "eficácias" no combate aos incêndios e mais dinheiro para as "eficácias", porque assim não há dinheiro que vede!
Precisamos de uma revolução, de preferência tranquila, mas que não tenha medo da palavra revolução! O regime republicano que despovoou o interior, que aniquilou a agricultura e a pastorícia, a troco de madeira e pasta de papel para a indústria (afinal para arder!), não tem quaisquer condições, nem sabe, como reverter a situação.
De facto - quem acantonou a população no litoral, a viver em sanzalas de cimento armado, à volta de Lisboa e Porto; quem não percebe que Portugal era um país habitado em toda a sua extensão, que tinha matas, tapadas, soutos, montados e pinhais na orla marítima, mas não é um país florestal nem amazónico; quem está em vias de reduzir o território continental a uma ridícula "república litoral portucalense" - não pode continuar a dirigir os nossos destinos.
Está na hora de uma drástica lei de "condicionamento florestal" que limite severamente a área do pinheiro bravo e eucalipto com destino à indústria.
Está na hora de convocar o exemplo de Sancho I, o Povoador!
Está na hora da colonização interna e recorrer, se for preciso, à lei Fernandina das sesmarias !
Está na hora de recomeçarmos (e reconquistarmos) Portugal.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Comunicações em rede

O que é que a miúda foi dizer?! Não se faz!
Então ela não sabe que todas as repúblicas têm umas quantas empresas ou “sítios” para encaixar os filhos, mulheres, irmãos e outros adesivos da nomenclatura?! Então ela não leu as regras do jogo?
Bem, mas aproveitemos a miúda enquanto não estiver ligada à rede!
Primeiro que tudo, vamos esclarecê-la, porque é jovem, e está naquela fase impulsiva em que “remata para onde está virada”:
A “cunha” tem uma função social, a saber – permite que os menos dotados pela fortuna (leia-se natureza) possam chegar onde chegam os ases! É esse factor correctivo que explica, por exemplo, o preenchimento de uma série de cargos públicos por notórios incapazes, reequilibrando assim o que estava desequilibrado! E não deixa de ser justo, diga-se.
Entendido isto, vejamos agora onde é que a miúda falhou rotundamente e revelou, ao mesmo tempo, uma indisfarçável disponibilidade para aceder (também tu, Joana?!) ao funcionalismo público:
Ela não se lembrou, nem questionou, porque é que tão talentosos “rebentos”, verdadeiros génios, filhos de génios, estavam ali estacionados, com os seus brilhantes curricula, numa empresa feita e mais que feita, quando o País precisaria das suas capacidades para novas iniciativas, novos empreendimentos, enfim, novas Índias!!!
Mas não, os fifis já nascem com aquela irreprimível vocação para o serviço público ou semi-público, e não há nada a fazer!
Aliás, bem vistas as coisas, esta é uma verdadeira vocação nacional e portanto só me resta despedir de Vexas., lembrando que os monárquicos têm desde longa data uma ideia muito concreta sobre este assunto: - nós sustentamos de bom grado uma família portuguesa (a Família Real) precisamente para não termos que sustentar a miríade de famílias republicanas que invariavelmente se fixam à mesa do Orçamento de Estado!
Sem mais, subscrevo-me atentamente.

sábado, agosto 13, 2005

Entre o épico e o hípico

Quando a última "incursão monárquica" chegou a Cacela, no sotavento algarvio, estava reduzida a dois homens - tio e sobrinho!
Corria o ano de 1975, a coberto da noite, dois vultos aproximaram-se da velha Torre do Bispo, uma quinta em ruínas à saída de Vila Nova de Cacela, onde então habitava "António da Torre", nome poético do nosso contacto no Algarve!
O velho monárquico, rijo nos seus oitenta anos, recebeu-nos a meio da escada, com um candeeiro a petróleo na mão, e confesso que aquela cena, tão recuada no tempo, instalou momentaneamente alguma dúvida sobre o sucesso da causa?!
Mas a saudação espontânea e surpreendente, trouxe-nos de novo a certeza de que era quem procurávamos :
- Como estão os meus ex-futuros amigos?
António Drago, advogado de profissão, mas sobretudo advogado do seu semelhante contra as inclemências da sorte ou da política, era conhecido em todo o Algarve, de sotavento ao barlavento, e dele se dizia que era "um homem cheio de partes", tradução para algarvio de "homem das arábias"!
Não precisava de usar documentos ou dinheiro, não tinha carro, e ainda dava "as suas ordens” à população, no largo da Vila ou na Praça do mercado! Isso mesmo constatámos nós, no dia seguinte, quando se tornou necessário ir a Faro para contactar potenciais candidatos monárquicos.
A presença e os conhecimentos de António Drago eram fundamentais e por isso pedimos-lhe que fosse connosco. Sem hesitar, olhou em volta e chamou:
- Ouve lá "Manel", aonde é que vais? -"Vou almoçar, Doutor, que se faz tarde!" - Não vais nada! Almoças comigo! - Precisamos de ti e do teu carro para irmos todos a Faro!
Resignado e com um sorriso de compreensão, o "Manel", que não tinha nada a ver com as "nossas monarquias", limitou-se a repetir - "Se o Doutor diz que é preciso ir a Faro, vamos a Faro!" E fomos!
Mas a "história" que a memória se recusa a esquecer, aconteceu quando António Drago, na força da vida e das conspirações, foi detido, mais uma vez, para averiguações !
No Posto da Guarda, o Comandante, querendo inteirar-se sobre as suas "ligações perigosas", encaminhou a conversa para o nome de Mouzinho de Albuquerque!
Ora, este Mouzinho de Albuquerque, provável descendente do herói de Chaimite, (o que aprisionou o Gungunhana), era ao tempo, oficial do Exército e cavaleiro olímpico de nomeada, tendo inclusivamente conquistado para Portugal uma medalha de bronze na Taça das Nações de hipismo!
Fosse pelo que fosse, o Comandante da Guarda insistiu na ligação e perguntou-lhe:
- Doutor Drago, o senhor conhece o Mouzinho de Albuquerque?
António Drago, de imediato, lança a dúvida fulminante:
- Qual deles? O épico ou o hípico?
O Comandante da Guarda, assim desarmado, rendeu-se... com um sorriso!

terça-feira, agosto 09, 2005

"Naming rights"

A expressão assusta pela densidade mas traduz-se bem. Quer apenas dizer: "as mil e uma maneiras de vender o bilhete de identidade" !
Esta recente "descoberta" da engenharia financeira, fruto directo de uma união de facto entre a "alta gestão" e a publicidade, acaba por ser o resultado de inúmeras e aturadas experiências à volta de um dogma da ciência que, finalmente, ganhou outra clareza: "nada se perde, tudo se vende" ! ! !
Mas lamento desiludir a ciência, porque esta “descoberta” já é prática generalizada entre a marginalidade, nomeadamente para evitar uma "ressaca" eminente.
De facto, para arranjar a verba em falta, o pressionado cliente, resolve a questão através de um acto comercial bastante simples: vende o bilhete de identidade a um desses muitos imigrantes que do Mundo se dirigem para as "obras públicas portuguesas" !
Mal sabe ele que esse seu gesto tem uma componente de serviço público, pois alivia os guichets do Serviço de Estrangeiros e possibilita ao mesmo tempo que no Zaire ou no Biafra alguém possa receber o conhecido "rendimento mínimo de reinserção", com todas as vantagens universais inerentes! Excepto para o deficit, claro!
Seja como for, a "descoberta" está a ser devidamente implementada, e com aplauso geral, pelas luminárias que dirigem Benfica e Sporting, enquanto Pinto da Costa resiste!
No Benfica equaciona-se para já vender o nome do Estádio e desenvolvem-se esforços para convencer a águia "vitória" a aceitar uma vantajosa troca de identidade.
Sem querer imiscuir-me, atrevo-me a sugerir, para a águia - "caixa geral de depósitos" e para o padrinho - "idiota".
No Sporting, o "naming rigts" fica-se por enquanto pelas portas e portões, mas pelo ar triunfante de Dias da Cunha, o próprio Título do Visconde está em risco!
Eu sei que a Invicta não gosta de vender a alma seja a quem for, mas apesar de tudo, sugiro daqui uma pequena vingança, em nome da febre dominante que ameaça reduzir tudo a patacos: lembram-se da célebre louça sanitária do Estádio das Antas, que o Fisco resolveu penhorar?
Pois bem, sugiro que a troco de uma renda a combinar com o respectivo ministro, a citada retrete entre para a História com o nome de - "ministério das finanças e do plano" !
Esta ideia de troca permanente de identidades, longe de confundir, dizem os percursores que clarifica imenso a imagem do planeta e também a deste "jardim à beira mar plantado", e já nem me aventuro chamar-lhe outro nome, pois existe sempre a probabilidade de estarmos a preparar algum bom negócio...
Eu próprio estou tentado a mudar de nome para ganhar uns cobres e não me importaria nada que me passassem a chamar João da PT, enquanto não conseguisse despachar o João!
E não havia confusão nenhuma, já que os íntimos podiam continuar a tratar-me pela alcunha!

sexta-feira, agosto 05, 2005

As sociedades infantis

Quando a república exorbita da representação do efémero e se arvora em sistema totalitário, está instalado um regime deseducativo, inevitável fabricante de sociedades infantis, ou imaturas, para ser mais subtil.
É o que acontece entre nós.
E não é necessário desenvolver grandes teorias ou raciocínios complicados para demonstrar esta evidência, já que as manifestações pueris são tais e são tantas que só os próprios não as admitem, como também é norma nas crianças.
Comecemos pelo símbolo, que não engana - uma mulher de seios generosos, que diz tudo sobre a idade da população, as suas carências e até as deficiências ao nível das proteínas!
Mas há mais: a irresponsabilidade assumida na expressão frequente – “eles lá sabem" ou "eles é que mandam", etc.
A orfandade ao canto do olho, que espera ansiosamente, não pelo pai que o complexo de Édipo cegou, mas pelo padrasto que deixou saudades!
Sinal deste desespero infantil vimo-lo ainda há pouco tempo quando fugimos todos, em debandada, do papão comunista e nos atirámos para o colo da União Europeia!
Enfim, a aspiração perpétua de que alguém tome conta de nós...
Desagradável mesmo, só para quem nos visita e é apanhado de surpresa neste Portugal dos pequeninos que vai fazendo a sua vida entre o recreio e a creche !
Directamente da creche vêm os telejornais da televisão pública com a obrigatória visualização de todos os jogos do Benfica, de todos os treinos, acontecimentos no balneário e outras intimidades! Segue o Sporting, na mesma dose! E finalmente, por descargo de consciência, dão qualquer coisa do Porto !
Ou não fosse o futebol um "'desígnio nacional", na feliz expressão do Presidente deste País de juniores !
A programação infantil encerra com uma espécie de papa nestlé chamada contra-informação, para ver se a gente bolsa aquilo tudo!
Existem outros aspectos da deseducação permanente e da consequente impossibilidade de crescermos, mas penso que hoje, é melhor ficarmos por aqui. Lembro apenas a alteração em curso do célebre lema: cresce e aparece - em português actualizado, quer dizer:
- Não cresças, para aparecer!

quinta-feira, agosto 04, 2005

Os árbitros...

Portugal tem indiscutivelmente um sério problema de arbitragem!
Todos os dias, em todos os jornais, todos os comentadores, políticos ou não, e também nos adeptos, de todos os clubes, de todos os partidos... uma única palavra acode à ideia e é a chave de todos os enigmas, a porta de todas as esperanças, e porque não dizê-lo, de todas as vitórias – o ÀRBITRO!!!
O resto não interessa para nada!
Colocado assim, nesse cume de expectativas, nessa fronteira entre o ser e o não ser, não admira pois, que todos e cada um queiram ter ao seu alcance, do seu lado, a seu favor, essa mítica criatura que depois de finalmente escolhida, passa a ser amada por uns e odiada por outros!
Antes porém, temos que assistir a esse espectáculo verdadeiramente educativo do – nomear, propor, apalavrar, desnomear, contratar, achincalhar, renomear, e finalmente, garantidas as espingardas, vestir a criatura de preto e pôr-lhe um apito na boca!
Espera-se então que a “independência em pessoa” apite bem... de preferência a favor de quem o nomeou, perdão, elegeu!!!
E a malta gosta?!
Ao menos assim, sempre podem gritar “fora o árbitro”!...
Mas só gritar!

terça-feira, agosto 02, 2005

Vasco e os antepassados

Lê-se bem! E já o ouvi, há muitos anos, dissertar sobre o seu tema preferido – o século dezanove português!
Lembro-me, que desconsiderou todos os empresários do liberalismo e a ideia de que o País é uma “choldra” já habitava o seu espírito!
Hoje está mais lúcido e entusiasmei-me quando levantou, ainda no DN, a questão do regime! Ingenuamente, pensei estar a referir-se à alternativa monárquica e recortei o bocadinho do jornal!
Recentemente, no “Público”, escreveu dois artigos brilhantes, o último dos quais intitulado – “ O Pântano Português” – onde analisa com rigor a índole e os defeitos dos portugueses! E tenho que concordar que os defeitos estão lá todos...
E as virtudes?
Vasco Pulido Valente desconfia dos contemporâneos e sobretudo não gosta dos antepassados!
Os nossos avós, bisavós, trisavós, etc., deviam ser ingleses, segundo Valente! A Igreja Católica, é uma fonte de obscurantismo! O Estado, é o lugar do arbítrio! E conclui: “... o Liberalismo, a Republica e a Ditadura não mudaram, neste capítulo, nada de essencial.”
A própria situação geográfica do País, também não é famosa, acrescenta Valente! Mas aí todos concordamos que não há nada a fazer!
Portanto, descobrir virtudes neste “deserto” é complicado!?
Vasco Pulido Valente quase que me convenceu... estou de rastos e sinto-me uma nulidade, descendente de portugueses!
Mas vou reagir e corrigir: – apesar do Liberalismo, da 1ªRepublica, da Ditadura republicana (2ª República) e já agora, desta 3ª República, o povo português tem conseguido manter a sua religiosidade, alguns valores históricos e ainda tem vontade de continuar Portugal!
O Liberalismo, introduziu no País um sistema político importado, que só se conseguiu impor pela força das armas! O regime aprisionou o Rei atrás das grades de uma constituição anti-portuguesa, e quando o soberano, em legítima defesa da Pátria, tentou libertar-se, foi assassinado!
É a partir do Liberalismo que a distância para os outros Países da Europa se acentua!
A subsequente República, em qualquer das suas três versões – é o desastre!
O traço de união entre o Liberalismo e a República é que ambos os regimes se constituíram e impuseram contra os alicerces da Pátria que já levava quase oito séculos de História verdadeiramente singular!
Oito séculos que consubstanciam a razão de ser português e de ser Portugal.

Mas que ninguém se iluda!

A História das Nações é uma coleccionadora muito selectiva!
A concorrência é feroz e não perdoa a ninguém!
As Pátrias independentes, são-no porque prestam um serviço universal melhor que outras candidatas!
Portugal ainda é uma estrutura de serviço necessária ao concerto das Nações e as suas qualidades e capacidades todos os dias se revelam!
As nossas “elites” pensantes é que andam distraídas ou então têm graves problemas de auto-estima como Pulido Valente!
Precisamos de nos reconciliar com os nossos avós que não tinham vergonha dos bisavós!
Depois tudo se torna mais fácil!
A História ainda não desistiu de Portugal e continua à nossa procura!