Escrever neste dia, para quem nunca conseguiu desligar a ideia de Pátria do regime que a edificou, é trabalho pesado, e difícil, se já era difícil quando a musa, que inspira poetas e trovadores, nem sequer nos conhece.
Por aqui, não encontramos literatura verdadeira. E se ela era precisa, nesta hora...
Em lugar disso, uma espécie de cartazes que vou afixando, gratuita e regularmente, na secreta esperança, que uma dúvida mais certeira, acorde outras dúvidas, capazes de fazer implodir o regime em que vivemos.
Grande intróito para coisa nenhuma.
Mas lembrei-me de um certo dia de Julho, catorze, por sinal, e de uma conversa de circunstância com um parzinho de jovens turistas franceses, que muito contentes e orgulhosos me anunciaram – “hoje é o dia nacional de França, comemora-se a tomada da Bastilha”. Ele a olhar para ela, ela a olhar para ele, sorridentes, à espera do meu sorriso (ou aplauso)!
Resolvi estragar a festa e perguntei: - vocês também gostam de comemorar guerras civis?
Como não percebessem, insisti – os que perderam, os descendentes dos guilhotinados, os que acham que foi um tremendo erro tudo o que se passou, também estão contentes? Também festejam?
Confusos, disseram-me que nunca tinham pensado nisso! Então, “au revoir”.
Enquanto se afastavam, continuei a perguntar a mim mesmo – será que não percebem que, de cada vez que nesse dia, gritam “Vive la France”, ofendem a memória de S.Luís e daqueles Reis cruzados que resgataram, em Jerusalém, o túmulo de Cristo?! E como se sentirão as “majestades fidelíssimas”, que talvez não fossem o sol na Terra, mas contribuíram decisivamente para a verdadeira grandeza da França?!
O sacrifício de Joana d’Arc, também terá sido em vão? Ela que reconheceu o Rei em Bruges, reconheceria a actual França? A que manda retirar crucifixos das salas de aula?
Rei e Pátria decapitados, no mesmo cadafalso, e ainda assim os franceses festejam?
Será que esse crime não lhes pesa nas consciências?
“Depois de mim, o dilúvio” – a profecia de Luís XV segue o seu curso destruidor!
A troco de quê?
Do brilho de uma campanha militar a cargo de um “condottieri” corso, cujos compatriotas, hoje, nem sequer querem ser franceses?
Do inevitável Waterloo?
Da “boa nova” de Rousseau, que anunciava a utopia e a decadência da França? E se fosse só da França...
Decadência, que os franceses, como o marido enganado, teimam em ser os últimos a saber?!
Enfim, hoje a falar da França... e a pensar em Portugal.
“ (...) na estrada de Sintra, perto da meia-noite ao luar, ao volante
Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez mais longe de mim...”
Por aqui, não encontramos literatura verdadeira. E se ela era precisa, nesta hora...
Em lugar disso, uma espécie de cartazes que vou afixando, gratuita e regularmente, na secreta esperança, que uma dúvida mais certeira, acorde outras dúvidas, capazes de fazer implodir o regime em que vivemos.
Grande intróito para coisa nenhuma.
Mas lembrei-me de um certo dia de Julho, catorze, por sinal, e de uma conversa de circunstância com um parzinho de jovens turistas franceses, que muito contentes e orgulhosos me anunciaram – “hoje é o dia nacional de França, comemora-se a tomada da Bastilha”. Ele a olhar para ela, ela a olhar para ele, sorridentes, à espera do meu sorriso (ou aplauso)!
Resolvi estragar a festa e perguntei: - vocês também gostam de comemorar guerras civis?
Como não percebessem, insisti – os que perderam, os descendentes dos guilhotinados, os que acham que foi um tremendo erro tudo o que se passou, também estão contentes? Também festejam?
Confusos, disseram-me que nunca tinham pensado nisso! Então, “au revoir”.
Enquanto se afastavam, continuei a perguntar a mim mesmo – será que não percebem que, de cada vez que nesse dia, gritam “Vive la France”, ofendem a memória de S.Luís e daqueles Reis cruzados que resgataram, em Jerusalém, o túmulo de Cristo?! E como se sentirão as “majestades fidelíssimas”, que talvez não fossem o sol na Terra, mas contribuíram decisivamente para a verdadeira grandeza da França?!
O sacrifício de Joana d’Arc, também terá sido em vão? Ela que reconheceu o Rei em Bruges, reconheceria a actual França? A que manda retirar crucifixos das salas de aula?
Rei e Pátria decapitados, no mesmo cadafalso, e ainda assim os franceses festejam?
Será que esse crime não lhes pesa nas consciências?
“Depois de mim, o dilúvio” – a profecia de Luís XV segue o seu curso destruidor!
A troco de quê?
Do brilho de uma campanha militar a cargo de um “condottieri” corso, cujos compatriotas, hoje, nem sequer querem ser franceses?
Do inevitável Waterloo?
Da “boa nova” de Rousseau, que anunciava a utopia e a decadência da França? E se fosse só da França...
Decadência, que os franceses, como o marido enganado, teimam em ser os últimos a saber?!
Enfim, hoje a falar da França... e a pensar em Portugal.
“ (...) na estrada de Sintra, perto da meia-noite ao luar, ao volante
Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez mais longe de mim...”
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Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
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