Com a devida vénia, transcrevo um artigo assinado por Tomás Dentinho, Director do Jornal ‘A União’ de Angra do Heroísmo:
“Cavaco Silva ganhou as eleições presidenciais. Muitos parabéns para ele e para os outros candidatos que durante vários meses tiveram de responder ao desenho de campanha eleitoral moldado em grande parte pelos órgãos de comunicação social.
Houve esclarecimento e não é legítimo afirmar que os eleitores desconheciam o pensamento e a forma de estar e de agir de cada um dos candidatos. Sendo assim, fruto da vontade popular, temos um novo Presidente da República.
Vamos a ver se será por cinco anos, por dez anos ou se apenas por um ano e meio. Talvez saia antes do tempo como já fez em 1980, com a morte de Sá Carneiro, e em 1995 antes da vitória de Guterres. Cavaco Silva enfrenta dois grandes dramas. Em primeiro lugar os dramas relacionados com a escolha das pessoas que mais directamente o apoiaram.
Quem vai escolher para o seu Gabinete? Quem vai afastar? Que sinais vai dar aos vários grupos de pressão?
Será que vai escolher uma equipa técnica e da sua confiança, ou vai dar um espaço de intervenção especial à Igreja, aos militares, aos sindicatos, aos empresários, às ordens profissionais, aos jornalistas, aos jovens, às várias curibecas, às várias regiões e aos diversos países. Na verdade, tratando-se de certa forma de uma vitória previsível é natural que os vários interesses se tenham acomodado junto do provável vencedor. Será que Cavaco Silva sabe o que representam ou tem-nos apenas pela sua competência técnica?
Quem irá escolher não é inócuo e é bom que a comunicação social esteja atenta à formação do Gabinete porque certamente será uma espécie de governo sombra ou luz do actual governo. Em segundo lugar Cavaco Silva tem de enfrentar os problemas do país e de todos nós. Aliás não terá sido eleito por qualquer outra razão. A crise da competitividade externa e os problemas das finanças públicas, as complexidades da segurança social e os traumas do sistema jurídico, as hesitações face à Europa e os desafios da globalização.O que é preciso fazer é mais ou menos óbvio. É necessário emagrecer e dar produtividade ao Estado. É urgente atrair o investimento estrangeiro e dar garantias ao investimento nacional. É crucial melhorar a educação e a investigação científica. O Governo sabe disso mas os passos que tem dado são manifestamente insuficientes. Será que a eleição de Cavaco Silva vai garantir e estimular reformas mais efectivas. É provável. No entanto, se Cavaco Silva se colar muito às reformas urgentes é natural que uma grande parte do país reaja negativamente contra ele e contra o Governo. Neste caso o papel de árbitro de Presidente da República passará para segundo plano e agravar-se-ão as divisões dentro do país. Se assim for o mandato termina dentro de um ou dois anos. Resta contudo o exterior. É face ao exterior que se ganha competitividade. É com o estrangeiro que se ganha investimento.
É com os outros países que se clarifica a Europa e se define o nosso papel na globalização. E se assim for o principal parceiro do Governo de Cavaco Silva não é José Sócrates mas sim o centrista Diogo Freitas do Amaral.
Estranhezas do regime.”
Jornal ‘A União’ de Angra do Heroísmo, em 23 Jan.2006
“Cavaco Silva ganhou as eleições presidenciais. Muitos parabéns para ele e para os outros candidatos que durante vários meses tiveram de responder ao desenho de campanha eleitoral moldado em grande parte pelos órgãos de comunicação social.
Houve esclarecimento e não é legítimo afirmar que os eleitores desconheciam o pensamento e a forma de estar e de agir de cada um dos candidatos. Sendo assim, fruto da vontade popular, temos um novo Presidente da República.
Vamos a ver se será por cinco anos, por dez anos ou se apenas por um ano e meio. Talvez saia antes do tempo como já fez em 1980, com a morte de Sá Carneiro, e em 1995 antes da vitória de Guterres. Cavaco Silva enfrenta dois grandes dramas. Em primeiro lugar os dramas relacionados com a escolha das pessoas que mais directamente o apoiaram.
Quem vai escolher para o seu Gabinete? Quem vai afastar? Que sinais vai dar aos vários grupos de pressão?
Será que vai escolher uma equipa técnica e da sua confiança, ou vai dar um espaço de intervenção especial à Igreja, aos militares, aos sindicatos, aos empresários, às ordens profissionais, aos jornalistas, aos jovens, às várias curibecas, às várias regiões e aos diversos países. Na verdade, tratando-se de certa forma de uma vitória previsível é natural que os vários interesses se tenham acomodado junto do provável vencedor. Será que Cavaco Silva sabe o que representam ou tem-nos apenas pela sua competência técnica?
Quem irá escolher não é inócuo e é bom que a comunicação social esteja atenta à formação do Gabinete porque certamente será uma espécie de governo sombra ou luz do actual governo. Em segundo lugar Cavaco Silva tem de enfrentar os problemas do país e de todos nós. Aliás não terá sido eleito por qualquer outra razão. A crise da competitividade externa e os problemas das finanças públicas, as complexidades da segurança social e os traumas do sistema jurídico, as hesitações face à Europa e os desafios da globalização.O que é preciso fazer é mais ou menos óbvio. É necessário emagrecer e dar produtividade ao Estado. É urgente atrair o investimento estrangeiro e dar garantias ao investimento nacional. É crucial melhorar a educação e a investigação científica. O Governo sabe disso mas os passos que tem dado são manifestamente insuficientes. Será que a eleição de Cavaco Silva vai garantir e estimular reformas mais efectivas. É provável. No entanto, se Cavaco Silva se colar muito às reformas urgentes é natural que uma grande parte do país reaja negativamente contra ele e contra o Governo. Neste caso o papel de árbitro de Presidente da República passará para segundo plano e agravar-se-ão as divisões dentro do país. Se assim for o mandato termina dentro de um ou dois anos. Resta contudo o exterior. É face ao exterior que se ganha competitividade. É com o estrangeiro que se ganha investimento.
É com os outros países que se clarifica a Europa e se define o nosso papel na globalização. E se assim for o principal parceiro do Governo de Cavaco Silva não é José Sócrates mas sim o centrista Diogo Freitas do Amaral.
Estranhezas do regime.”
Jornal ‘A União’ de Angra do Heroísmo, em 23 Jan.2006
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