'(…)
Recebeu soutos esquecidos, caminhos que se perderam, casas e muros
vencidos, que as silveiras já esconderam...'
Tragédia
ou fatalidade, já escrevi sobre a 'estação dos fogos', a sua
inevitabilidade, num deserto interior onde só há árvores e por
isso não vivem nem podem viver pessoas. Já todos sabemos que os
herdeiros dessas terras abandonadas emigraram há muito, ou para o
estrangeiro ou para os dormitórios de Lisboa e Porto. Já
calcorreámos as serras onde outrora pastavam rebanhos e agora só dá
pinheiros e eucaliptos. Já constatámos que está tudo menos verde e
tudo cada vez mais fumegante. A decantada riqueza florestal é afinal
a nossa pobreza. Mas não de todos. E esta é talvez a última
tragédia. Entre o cortejo de dor o inferno ameaça tornar-se uma
indústria sazonal! O ganha pão certo de muita gente e de muitas
empresas. Incluindo as televisões e os seus inúmeros microfones.
Estarei a ser insensível ao drama?! Ingrato para quem arrisca a vida
a lutar contra o fogo?! Talvez. Mas uma tragédia não pode ser uma
fatalidade. As tragédias acontecem de vez em quando, são
imprevisíveis. As fatalidades acontecem todos os anos, fazem parte
da herança. Uma herança que nem sequer podemos repudiar! Mas
podemos emendar, deixando melhor herança aos vindouros. Assim terá
pensado Dom Sancho I, segundo rei de Portugal, de cognome O Povoador.
Parece-me que o caminho é este. Mas talvez seja preciso mudar de
regime. A república não vai lá.
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