3. O drama das rendas e dos despejos
Quem ler os jornais ou vir as
televisões achará que Portugal vive um drama habitacional. Tão pungente que os
partidos se multiplicam em iniciativas legislativas e o consenso do momento é
que é tudo por causa de uma lei de 2012, a “lei dos despejos”, ou “lei
Cristas”. Nuns dias relata-se o drama humano daquele quadro da classe média que
teve de exilar-se nos Olivais porque perdeu o apartamento no Saldanha. No dia
seguinte repete-se acriticamente a alegação de que haverá “mais de 500 mil
inquilinos precários”, um número absurdo se pensarmos que, de acordo com o
último censo (2011), não chegava a 800 mil o total dos alojamentos familiares
clássicos arrendados, isto num país onde existem quase seis milhões de casas ou
moradias.
Instalou-se um histerismo que,
mais uma vez, apenas reflecte o que se passa no umbigo do tal Portugal que circula
no “Chiado alargado” dos nossos dias. E o que se passa é simples: durante
décadas os centros de Lisboa e do Porto esvaziaram-se e caíram aos pedaços
porque durante um século viveram-se várias formas de congelamento das rendas
(porventura a única causa comum que uniu a I República ao salazarismo e este ao
PREC e depois à democracia); milhões investidos em programas de reabilitação de
pouco ou nada serviram; veio então a liberalização do mercado do arrendamento,
chegou o turismo e o investimento estrangeiro, e os centros das cidades
voltaram a ficar bonitos, limpos e modernos, graças a muito investimento
privado; como tudo isso teve um custo, os preços subiram, e os que antes
desdenhavam as ruínas das cidades velhas passaram a cobiçar o viço dos bairros renascidos;
ou seja, tudo se explica mais facilmente se nos lembrarmos de que, como toda a
gente sabe, a última palavra de “Os Lusíadas” é “inveja”.
(...)
Saudações monárquicas
Nota final - As outras cinco razões enumeradas por José Manuel Fernandes são: - O silêncio em torno da corrupção; A polémica das reportagens da SIC; A pequenez dos acordos do 'bloco central'; Os truques de Centeno, ou dizer uma coisa e fazer outra; A polémica do museu das descobertas.
Nota final - As outras cinco razões enumeradas por José Manuel Fernandes são: - O silêncio em torno da corrupção; A polémica das reportagens da SIC; A pequenez dos acordos do 'bloco central'; Os truques de Centeno, ou dizer uma coisa e fazer outra; A polémica do museu das descobertas.
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