quarta-feira, junho 07, 2006

Dependências

Evito, e nem sei se faço bem ou mal, opinar sobre matérias que fazem parte da minha actividade do dia a dia, que exprimem vivências onde existe grande sofrimento, e em que se fica sempre com a sensação de que as teorias, por mais explicativas, nunca atingem o cerne da questão: o homem e esse mal-estar interior que o leva a percorrer caminhos de dependência e solidão.
Depois, para falar de dependências, nada melhor do que começar pelas nossas, tantas vezes ignoradas ou escondidas atrás de comportamentos aparentemente saudáveis, só aparentemente livres!
Por isso evito e acabo por mudar de tema.
Acontece que sou muitas vezes confrontado com a ignorância triunfante, afinal tão comum, que faz parte inclusivamente do discurso oficial, aquele que aposta em políticas de ‘redução de danos’ ou de ‘substituição de drogas por outras drogas’, em lugar de combater frontalmente o flagelo, autêntica epidemia que vai assumindo sempre novas formas, e que não recuará perante medidas meramente apaziguadoras.
É assim que vejo as dependências e o seu combate:
O princípio básico nesta matéria reside na coragem do diagnóstico, que deve ser capaz de pôr em causa o nosso estilo de vida, chamar o mal pelo mal e o bem pelo bem, sem tergiversações, sem medo de ser atingido pelas suas próprias armas.
Sempre existiram e sempre vão existir dependências, vícios, mas não estamos a falar disso. Estamos a falar de um pandemónio que se abateu sobre a humanidade e cujas causas ninguém quer ouvir falar!
Porque será?
Naturalmente porque elas nos conduziriam às ideologias dominantes, àquelas que ditam os nossos comportamentos actuais, que conformam o quotidiano das nossas vidas: o materialismo, o ateísmo, o egoísmo, e outros “ismos” mais ou menos semelhantes.
Como consequência, a escalada dos baixos instintos, a destruição ou relativização de valores básicos civilizacionais, conquistados com tantos sacrifícios, e que vão submergindo neste mundo que tudo descarta e consome!
Termino como comecei: o verdadeiro problema não são as substâncias, mas os comportamentos que nos levam às dependências. As substâncias funcionam como mera ‘bengala’, sem esquecer que há inúmeras dependências que não usam sequer substâncias, como é bom exemplo, o vício do jogo.
Perceber as causas e assumir a realidade da própria dependência, são o único caminho para a liberdade.
Quase que apetece repetir: “Um doido quando sabe que está doido, já não está doido”.

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