domingo, dezembro 31, 2006

Ano Novo

Foi só para mudar o frontispício, dando lugar a uma mensagem com outra esperança, que desanuvie os espíritos que se inquietam com o desconforto dos nossos dias.
Pois que seja um ano novo, e que a simples transposição dessa linha imaginária, ao som de doze badaladas, tenha o efeito de uma descoberta, o tal caminho que procurámos em vão neste ano que finda.
Bem, isto está bem escrito, um pouco rebuscado, é certo, mas serve perfeitamente para introduzir o reveillón! Calma, ainda é cedo para abrirem o ‘raposeira’, para mim é meio-seco, se fazem favor. O pessoal do champagne francês vai para a outra sala.
Já perceberam concerteza que o Interregno está a fazer todos os possíveis para que os frequentadores desta casa tenham umas boas entradas.

sábado, dezembro 30, 2006

Os anjos da morte

Eles dizem sempre que são os outros, porque os bons, os pacíficos, as vítimas, são eles! Quem faz explodir cidades e vidas em poucos segundos são eles, mas os outros é que não podem possuir armas nucleares, porque é perigoso! Eles são eles e os seus amigos israelitas, coitados, povo eleito e sofredor, o que seria do mundo sem eles!...
O Iraque, anteriormente um mar de chamas, um inferno, agora, com a democracia a caminho por oleoduto, mas já sem Iraque, é uma maravilha! Tempestade no deserto, missão cumprida, hurrah!
Nas palavras de um jovem iraquiano, possivelmente sunita, a execução de Saddam Hussein foi um crime irano-americano. Mas a América tem as costas largas, podemos precisar a objectiva, e o que vemos! Os mesmos bárbaros que saquearam Roma, os mesmos ladrões de diligências no far-west, os mesmos criminosos que abateram os índios! O supra sumo da civilização, faróis da humanidade, que nos guiam. Para onde?
Perguntem à estátua da liberdade com letra pequena.
Deves pensar que sou anti-americano, mas não sou.
I was, mas já não era.
Eu chamo-me Poncio Pilatos e repito a frase que vai da esquerda à direita – era um ditador, um torcionário, mas nós somos contra a pena de morte!
Somos?!

sexta-feira, dezembro 29, 2006

O regime da tirania

Se uma efémera maioria assim o ditar, terás finalmente o desejado poder absoluto sobre o teu corpo! No segredo de uma nova clandestinidade e durante dez semanas, nem mais nem menos, ninguém ousará interferir com essa vontade soberana, podes dar à luz ou matar, para os outros será indiferente, a decisão cabe-te.
No primeiro momento a glória de uma conquista encherá de esplendor a tua fronte, a terra há-de parecer pequena para tamanho poder, será porém bem curto o teu êxtase.
Porquê?!
Não se decreta a morte impunemente. Ninguém se atreve sozinho, sem dividir essa decisão com outrem, nem que seja com o remorso do pecado ou com o álibi do crime!
Mas assim, no isolamento obrigatório de uma só consciência, esse poder já não é absoluto, passou a ser tirânico e como tal sofrerá as consequências que o futuro reserva aos tiranos.
A sombra dos que não nasceram e a vigília dos sobreviventes eternamente gratos, tudo isso há-de pesar como chumbo nos teus ombros frágeis, e traçará um destino. Sempre pronto a realizar-se, à mínima falha, ao menor sinal de fraqueza.
“Quem com ferro mata, com ferro morre”, ditado antigo.
Um presente envenenado para quem não o pediu!

terça-feira, dezembro 26, 2006

Boas leituras

"Instaurar a república para restaurar o reino e sonhar o V Império", para ler "Sobre o tempo que passa".
Ver o link na coluna dos Blogs, é o penúltimo.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Presente de Natal

Os novos hábitos não contemplam a missa do galo e a consoada já não reúne a família. Por causa disso reduzimos o presépio e fizemos crescer a árvore de Natal. Os portugueses exageram sempre – a maior da Europa, tinha que ser!
Apetece blasfemar: quem acabou com o morgadio, acabou com a família. Lembro-me então que não sou o mais velho, o primogénito! Deixá-lo, regras são regras.
Deixei tudo para a última hora, faltam três presentes, verifico a verba, vamos aos livros! Há bons e baratos, para todos os paladares. Estou numa grande superfície comercial.
Carolina, estava a ver que não estavas aqui, mas estás, por todo o lado, é agora ou nunca, vais escondida no meio dos outros, só a menina da caixa é que há-de sonhar com o teu romance. Detecto entretanto um problema: e lá em casa, como é que justifico a Carolina! Digo que me enganei? Que estava em promoção! Não pega, não acreditam. Se disser que foi o vizinho que me pediu para comprar, desconfiam, e o vizinho não me vai perdoar a denúncia infame.
Mudo de táctica, enquanto finjo que escolho, leio o livro. Comecei por desarrumar a prateleira para construir um castelo: coloquei estrategicamente alguns livros de grande lombada à volta da frágil criatura, livrando-a assim de olhares indiscretos. E passei à fase seguinte – com a Carolina no meio e um livro insuspeito à mão de semear, desfolhei vagarosamente, uma a uma, cada folha daquela explosiva história de amor… e maldizer. Fui até ao fim. Quando levantei os olhos encarei com um funcionário complacente que se limitou a sorrir e a abanar a cabeça.
Já sei que estão cheios de curiosidade para saber como é!
Se querem que lhes diga, o livro lê-se bem, tem muitas fotografias alusivas, e tomadas as devidas precauções, consegue-se. A posição não é famosa, temos que estar em pé, e de sobreaviso, por exemplo, os carrinhos de compras com miúdos lá dentro, são um perigo! Os miúdos querem sempre tudo e mais alguma coisa, e os papás não resistem. Houve uma altura em que tive que me desviar e nesses segundos intermináveis a Carolina ficou completamente desprotegida. E temos ainda os curiosos que vagueiam por toda a parte, e os maçadores que aparecem para comprar livros, e logo ali!
Enfim, tem as suas dificuldades, mas posso garantir que é uma experiência única! Um último conselho: não façam isto fora da quadra natalícia, porque pode acontecer que os funcionários não sejam tão compreensivos, principalmente naquela fase em que temos que desarrumar as prateleiras.
Boas Festas.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Azambuja encerra pelo Natal

A fábrica da Opel na Azambuja, que ainda há uns meses foi considerada um modelo dentro do Grupo General Motors, vai a encerrar lançando no desemprego mais de mil e quinhentos trabalhadores. Uma deslocalização, é o termo técnico utilizado, e não vai para longe – Saragoça, aqui ao lado!
Não valem portanto razões de mão-de-obra mais barata, a que normalmente associamos estes movimentos que seguem a lógica do mercado, devem ser outras as razões ponderosas, e poderosas podemos talvez acrescentar.
O Governo lamenta, o ministro diz que fez tudo para evitar o desenlace, mas não há nada a fazer, é o progresso que nos toca, coisas que o comum dos portugueses não percebe, e por isso nunca passarão de portugueses comuns!
Afinal o que se está a tornar comum é esta febre do abre e fecha que percorre o país de lés a lés, numa cadência a que nos vamos habituando, sem querer! Fazemos as contas: são mil e quinhentas pessoas, não sei quantas famílias, um certo alarme ressoa dentro de nós, mas logo sossegamos, pensando, vão para o Fundo de Desemprego concerteza, ‘está-se bem’!
À noite ouviremos a voz suave dos políticos, veremos o rosto da nomenclatura que se diverte, tanta gente que não podemos deslocalizar, infelizmente.

domingo, dezembro 17, 2006

“A voz do cidadão”

É um programa que pretende assegurar alguma compatibilidade entre aquilo que a televisão pública transmite e a receptividade que obtém junto dos telespectadores. Quem o dirige, Paquete de Oliveira, esforça-se por dar resposta às inúmeras sugestões que lhe vão chegando, mas na verdade, seja pela falta de sentido crítico dos portugueses, seja pela intervenção pouco audaciosa do Provedor, as coisas não têm melhorado. Estou a referir-me não apenas aos conteúdos mas simplesmente a algumas escolhas obviamente erradas e deseducativas.
Centremo-nos numa área de grande audiência como é o futebol, que para além de ser uma actividade já de si problemática, se transformou naquilo que todos sabemos e alguns persistem em não saber: um biombo para a corrupção.
Nestas condições seria natural que a televisão pública, através da sua Direcção de Programas estivesse mais atenta ao fenómeno contribuindo ela própria para a resolução do problema.
Como?
Esbatendo tanto quanto possível o enorme tempo de antena concedido pelos canais privados aos três clubes chamados grandes e pautasse a sua intervenção informativa nesta área, por alguma sobriedade e bom senso. Mas não é nada disso que se passa!
Sem qualquer explicação aparente, a nossa RTP acha necessário e obrigatório preencher todos os telejornais com propaganda daqueles três clubes, existam ou não notícias relevantes sobre eles, numa deriva ‘soviética’ como se estivéssemos perante verdadeiros ‘clubes do Estado’!
Ora bem, numa actividade que tem uma componente desportiva não se percebe qual é a ideia do canal público! Será acentuar ainda mais o fosso entre clubes grandes e pequenos? Ou pretende-se pura e simplesmente extinguir todos os outros, para que fiquem só três?
Tem a palavra o Provedor.
E se o Director de Programas da Televisão não perceber, eu explico melhor.
Saudações belenenses.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O mistério do mrpp

Pode parecer insólito que este interregno ainda se lembre de coisas que já ninguém quer lembrar, que ainda estabeleça ligações fantasiosas entre o país real e o país esquecido, que se mantenha agarrado a algumas interrogações que ficaram por decifrar!
Mas pergunto eu – de que é que estavam à espera, neste espaço e deste desmancha-prazeres?!
É curioso notar que sempre que queremos encontrar uma pessoa com créditos firmados nas mais diversas áreas e acima de qualquer suspeita, a busca e respectivo recrutamento recaiem nas hostes dos antigos maoístas, aqueles que na sua juventude militaram no mrpp ou nos seus arredores!
Como se o passaporte para a honestidade e para a firmeza, já não digo para a inteligência, tivessem obrigatoriamente que passar pela leitura do livro vermelho, por todas as arruaças, pelos assaltos às embaixadas, ou pela ideia peregrina de transformar o país numa espécie de Cambodja! Enfim, por todos os complexos e loucuras de uma mocidade mal-educada!
Mas parece que sim, e esta nomeação de Maria José Morgado confirma o que atrás se disse. Tal como a União Europeia não teve dúvidas em escolher Durão Barroso para dirigir os seus destinos, assim como a fiscalidade se inclina perante a opinião de Saldanha Sanches, também agora o bom êxito das investigações no “Apito Dourado”, parecem depender desta escolha!
Um verdadeiro mistério!
Ou será apenas a confissão de uma sociedade que deixou de acreditar em si própria e assim se entrega a quem ainda acredita, ou acreditou, em alguma coisa! Ainda que essa alguma coisa fosse um completo disparate!
Para pensar.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Um português, um livro

Num país vencido pela ignorância, que apenas lê o jornal desportivo da sua cor clubista, não se percebe muito bem este furor publicista que desagua invariavelmente em livro de memórias!
Faço parte da dúvida, pois tenho eu próprio que justificar, postal atrás de postal, a razão de tamanho ímpeto confessional. Que não chega a livro… por enquanto.
Pois bem, se conseguir explicar-me, talvez consiga explicar o enigma.
Provavelmente será falta de catequese, falta da prática da verdadeira confissão, daquele momento concreto concebido para remissão dos nossos pecados. Mas não posso enveredar por um discurso ininteligível para os contemporâneos, maioritariamente ateus ou simplesmente alheios, terei que tentar explicar isto de outra maneira.
Com efeito em todas estas memórias, que mais não são que confissões, o que ressalta, para além do aspecto justificativo, é o arrependimento! Uma enorme necessidade de compreensão, ou até de perdão, para o que se tenha feito de errado ou duvidoso. E onde coexiste um grande empenho em fazer melhor.
Uma confissão pública, até mais exigente que a verdadeira, se for sincera, mas a imagem que permanece é a de uma absoluta desorientação e falta de Deus.
E uma solidão invencível!
Não chegam os telemóveis que a cada segundo nos põem em comunicação com o próximo, não bastam as grandes concentrações de pessoas, gritando, ou simplesmente “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”! Nada consegue preencher o sentido deste dia, e do outro que chega amanhã!
Falta Deus, mas já se nota algum arrependimento.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Enfim, tesos

“ A tendência geral da humanidade é a de os mais pobres aspirarem ao nível de vida dos mais ricos. A diversidade nacional de moedas tende a diminuir as diferenças de desenvolvimento económico, e a prazo a igualizar a situação económica dos países entre os quais o comércio é livre. A unicidade da moeda, pelo contrário, tende a perpetuar as diferenças de riqueza entre as nações”.
Estava eu a reler esta passagem de um interessante artigo de Pedro Arroja, publicado em 1989 na revista “Portugueses”, quando me ocorreu o desabafo que serve de título ao postal!
“Talvez que eu seja um caso isolado”, como diz a canção, mas estou certo que “não sou o único a olhar o céu”. Neste caso o inferno do quotidiano, que atinge em cheio o bolso de uma grande maioria de portugueses, por enquanto mais ou menos silenciosos.
O texto chama a atenção “que para os países mais pobres da Comunidade, a criação de um Banco Central comum e de uma moeda única seria um factor impeditivo do progresso, perpetuando a sua pobreza relativa, face aos países mais prósperos da Comunidade. Que o Banco Central Europeu contribuiria para aniquilar a diversidade cultural da Europa, centralizando o poder político nas nacionalidades relativamente mais numerosas e ricas do norte, com consequências difíceis de antecipar”.
Hoje já não há muito para antecipar: agarrámo-nos à união europeia pelos piores motivos, ou seja, na tentativa de escaparmos às nossas responsabilidades históricas; fugimos “sem vela e sem navio”, e por isso fomos incapazes de tirar partido da situação, como outros tiraram; pensámos, e ainda há quem pense, que aquilo foi feito para nós, e para sempre! Limitámo-nos a receber e a gastar o preço da nossa independência.
No meio da desorientação geral ouvem-se agora estranhas vozes aconselhando a pista marroquina!
E continua a prometer-se o futuro a quem renegue o passado!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Já sabíamos

“A Monarquia sai mais barato”, pode ler-se no DN de hoje, que por sua vez transcreve uma notícia do jornal espanhol “El Economista”.
“O jornal espanhol fez as contas e chegou a uma conclusão: a Monarquia sai mais barata que a República. (…) De acordo com os valores recolhidos pelo jornal, que representa um estudo comparativo, baseado em números redondos, a Monarquia espanhola exige incomparavelmente menos dos contribuintes que a Presidência da República francesa…Traduzido em números, a Coroa espanhola gasta em termos globais cerca de 25 milhões de euros/ano. Um valor muito abaixo dos 56,3 milhões de euros anualmente concedidos à Coroa Britânica e muito próximo dos 23,4 milhões atribuídos ao Principado de Mónaco.
Quando se olha para a França, pelo contrário, os números disparam em matéria de custos relacionados com a Presidência da República: “Aqueles que conseguiram decifrar a complexa contabilidade do Eliseu” escreve o jornal espanhol, “calculam que o seu custo se situe nos 90 milhões de euros/ano”!
E depois, digo eu, a monarquia tem outras vantagens: poupa os contribuintes a alguns desabafos irreprimíveis, como por exemplo – “ sou de centro esquerda”!
Com efeito não vislumbro a possibilidade de expressões semelhantes, quer da parte da Rainha Sofia de Espanha, quer do Príncipe Filipe de Edimburgo.
Sai mais barato e é outro sossego.

Maria centro esquerda

Antigamente dizia-se: “pai rico, filho nobre, neto pobre”, uma sequência lógica em três gerações, reflexo de tempos que não são difíceis de identificar.
Hoje a coisa complica-se mas vai dar ao mesmo: “pai do Olhanense, mãe do centro esquerda, filho do Sporting ou do Benfica, e neto da extrema-esquerda ou da extrema-direita. E toda esta minha gente tem uma particularidade: vive e quer continuar a viver do Orçamento de Estado.
Escrevo esta reflexão sociológica ao correr da pena, num café, contemplando o escaparate dos jornais. Lá estava a vossa Maria a comunicar ao mundo: “sou do centro esquerda”.
Eu complementaria a legenda com a seguinte informação: e fui eleita, perdão, parece que o meu marido é que foi eleito, com os votos daquela direita que também é do centro-esquerda.
Saudações monárquicas.

domingo, dezembro 03, 2006

O calendário das trevas

Estragaram-me a data, lixaram-me o dia, e no próprio dia da independência, celebraram todas as dependências!
Trocaram-me o céu pelas doenças da terra, apagaram heróis em nome do medo, faltou apenas declarar, universal, o dia do umbigo final!
Contaram-me os ossos e todas as vísceras, e tanto mexeram e remexeram, que do meu corpo, nada sobrou!
Dezenas de preservativos falaram de preservativos e de outros instrumentos de culto, a saber, sexo seguro, salas de chuto, mas sobretudo, falaram muito de comportamentos de risco! Qual risco? O de não usar preservativo ou o risco do próprio comportamento himself? Perdoe-se-me a redundância bilingue.
Quiseram justificar estilos de vida, e acabaram nos inocentes, como é costume!
E aqueles, meu Deus, gritaram sem acreditar na expressão! Os que foram infectados sem querer, os que tinham tudo para ser felizes e adoeceram!
Mataram o tempo sem falar das causas. Perderam-se no tempo das consequências!
Um comportamento de risco, e não há preservativo que lhe valha.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Hoje

Hoje, podia fazer-te simplesmente um poema, uma canção de gesta, um mosaico florido, um hino de glória.
Podia oferecer-te uma história de amor, um livro de aventuras, que nada seria, comparado com o destemor desse dia!
Contra a corrente, a favor da esperança, pela independência!
Foi senha de fidalgos, coragem de portugueses, senhores do seu destino!
Quantas vozes avisadas para desistirem? Quanta indiferença igual a hoje?!
Tão poucos eram, quarenta, aprendi no livro da quarta classe!
Foi hoje, em 1640.
Ainda te lembras?

quarta-feira, novembro 29, 2006

Droga-te com cuidado

Evita as doenças, eu ajudo-te a consumir nas melhores condições, é uma pena que isso te faça mal à saúde! Saúde física, bem entendido, aos dentes, ao fígado, aos pulmões, à pele, tens aqui seringas, vou ali buscar heroína e já venho, passarei por aqui todos os dias e conversaremos sobre a tua vida, não queres um prato de sopa?! Até amanhã.
Este diálogo existe, eu não posso julgá-lo, nem sequer criticar quem assim procede. Muita gente de boa fé acorre na tentativa de combater um estranho mal que tomou conta do mundo, que não conseguimos atribuir aos nossos hábitos, aos valores que abandonámos, porque isso, sim, seria doloroso, estávamos a pôr em causa tudo aquilo em que hoje acreditamos!
Mas se esta atitude ainda se pode compreender em termos individuais, já não é aceitável que o Estado permaneça cego perante o erro, ocupando o discurso com a ‘redução de danos’, prova insofismável de conformismo, ao mesmo tempo que envia para a sociedade uma mensagem terrível – a droga só é um mal porque não te faz bem à saúde!
E não se diga que todas as ajudas são boas, porque algumas acabam por inviabilizar ou anular outras, bem mais condizentes com a dignidade da pessoa humana.
Ainda por cima, sem êxito: o aumento do HIV e das suas consequências, como a tuberculose, espelham o fracasso desta política!
Neste contexto, é lícito perguntar: mas porque não muda o Estado, ou o Governo, de política?!
Porque isso seria refutar a filosofia triunfante, obrigaria a rever conceitos, a recuperar valores entretanto postergados, com consequências tremendas para os senhores do regime.
Não vejo outra explicação.

terça-feira, novembro 28, 2006

A descoberta

Próximo de Badajoz, Sócrates olhou pela primeira vez a Península e descobriu imediatamente que havia ali um destino comum. Tudo se conjugava para o efeito, desde logo a geografia, a diversidade das regiões e dos seus habitantes, a origem da língua, também o gaz e a electricidade, o tgv, apenas a história se afastava deste padrão uniforme, desta lógica identitária!
Nada que não se resolva, pensou. Não vamos é alimentar este divisionismo ridículo, obra de ingleses ou excesso de virilidade do primeiro Afonso. Não nos podemos esquecer que já vivemos semelhante tentativa, estou a pensar nos Filipes, pois claro.
Foram sessenta anos de felicidade abruptamente interrompida por um punhado de fidalgos incapazes de compreender o sentido da modernidade, a inevitável inclusão. Tudo aconteceu num primeiro de Dezembro de 1640!
Tentaremos pois de novo, mas com uma variante: é preciso manter uma falsa independência, fictícia em tudo, menos nos cargos públicos. Continuaremos a fingir que somos um país, elegeremos os nossos deputados, o primeiro-ministro serei eu, por muitos e bons anos, sem esquecer que um presidente da república faz sempre parte da fachada.
A população apertará o cinto durante o período de adesão que nos for imposto por Madrid, mas a ‘cenoura’ do salário castelhano, o prometido desenvolvimento e outras vantagens futuras, hão-de por certo amaciar os portugueses.
Portugueses que, perdidas as colónias, já pouco têm em comum.
E depois, é uma enorme alegria trabalhar com Zapatero, um homem atirado para a frente como eu!
Ainda estou admirado como é que ninguém reparou na evidência: a Península Ibérica afinal é só uma!

segunda-feira, novembro 27, 2006

Sampaio Não

Mas parece que Sampaio sim!
O ex-presidente de todos os portugueses, estatuto de que beneficia e lhe vale um conjunto de mordomias e prebendas, com direitos e deveres incluídos, veio a terreiro anunciar o seu envolvimento na campanha pelo sim ao aborto!
Pergunto-me: Por onde andará a tão celebrada ética republicana?
É que não fica bem manter o estatuto de ex-presidente da República, sustentado por todos os portugueses, e ao mesmo tempo participar politicamente em campanhas que inevitavelmente dividem a sociedade.
Mas então, como poderia o cidadão Jorge Sampaio, sem comprometer aquele estatuto, exprimir-se nesta relevante questão?
Simples, fazendo como a grande maioria dos portugueses, ou seja, votando no referendo.
E mais não digo para não instrumentalizar a vida de ninguém.

sábado, novembro 25, 2006

Um dia de Comandos

Hoje paguei a bica ao Inácio. Ainda trazia a boina encarnada na mão, tinha vindo da Amadora, onde vai todos os anos para relembrar com os antigos companheiros de armas o dia 25 de Novembro de 1975.
Ele foi um dos muitos desmobilizados que acorreu à chamada e que participou nas operações que deram o triunfo à república que temos hoje.
Nada de especial, disse-me a brincar, para quem arriscou a vida, sempre disponível para defender a Pátria, como já tinha feito em Angola e Moçambique! À mesa do café, na minha frente, estava um soldado português!
Em poucas palavras disse-me o que a memória ainda guarda: frente ao portão fechado da Força Aérea em Monsanto, o Jaime Neves deu três minutos para se renderem, mas ao fim de dois minutos o portão abriu-se, estava toda a gente perfilada, e as armas empilhadas no chão. Em todos os outros locais sucedeu o mesmo, ou quase o mesmo, os cabecilhas fugiram, as forças oposicionistas renderam-se. Na Ajuda caíram dois Comandos atingidos cobardemente pelas costas.
O Partido Comunista, que manobrou sempre na sombra, fingiu-se de inocente e foi poupado no fim.
Enfim, digo eu, mas uma bica foi pouco.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Uma biografia do Duque de Bragança

O livro, “D. Duarte e a Democracia – Uma Biografia Portuguesa”, da autoria de Mendo Castro Henriques, foi ontem apresentado ao público, em concorrida sessão de lançamento.
O autor, professor da Universidade Católica e nosso companheiro de armas no “Duas Cidades”, lembrou que o biografado representa a “pátria com rosto humano” aludindo à necessidade de “estarmos preparados para o eventual regresso da monarquia”.
Registe-se que a data de lançamento desta biografia, coincidiu com o dia de anos da Senhora Dona Isabel de Herédia, Duquesa de Bragança.
O Interregno não pôde estar presente neste acontecimento, sem dúvida importante para a causa monárquica, mas pelo que soube através da comunicação social e do que leu na blogosfera, sente-se em condições de dizer que constituiu motivo de surpresa para uns, aplauso para outros, e de repúdio para muitos, o facto de Manuel Alegre estar entre os convidados.
Coincidindo com a minha posição de fundo e de sempre, não faço comentários nem teço críticas que possam envolver SAR o Duque de Bragança. É uma questão de princípio. No que diz respeito à prossecução dos objectivos que me norteiam no reencontro de Portugal com a sua história, basta-me repetir o lema da minha cruzada: os republicanos que fizeram o nó que o desatem. Como é que entendem fazer isso, é com eles. A mim cabe-me apontar o erro e chamá-los à razão, nada mais posso nem devo acrescentar.
A história há-de julgar-nos a todos.
Saudações Monárquicas.

quarta-feira, novembro 22, 2006

O argumento

Quando a coisa aquece, quando o banqueiro do povo, leia-se Garcia Pereira, tenta convencer a Banca a transformar-se na Santa Casa, eis que surge o argumento decisivo:
- Mas de que serve atacarem a banca se somos um dos sectores que mais se modernizou, um dos mais competitivos e aquele que melhores resultados obtém! Que o Governo se preocupe com as actividades que não souberam acompanhar os tempos, com essas entidades deficitárias que por aí pululam!
Se ouvi bem, este argumento de João Salgueiro era para mim, pior, era contra mim. Entidade deficitária me reconheço, os meus pobres euros nunca chegam ao fim do mês! Já envergonhado, ponho os olhos na banca, e pergunto: onde é que eu falhei? Porque me atrasei desta maneira!
Recobro a memória e lembro-me de semelhante discurso pronunciado pelos donos da bola! Valentim Loureiro, também ele pedia justiça para o futebol, essa laboriosa actividade perseguida pelo fisco, a contas com a mesma justiça, e que tão bons resultados tem obtido lá fora, o orgulho de uma nação!
Acordo para a realidade e verifico que a maior parte dos grandes negócios deste mundo assentam em organizações de excelência, difíceis de abater, e também elas com graves problemas com a lei!
Aprendo tardiamente uma lição de vida!